No meio de tanta loucura, pressa e falta de sentimento, criei um único lugar onde algo faria sentido,pelo menos para mim. Um lugar para confortar e acolher pequenas idéias e grandes sentimentos, embora a indiferença de muitos.

sábado, janeiro 29, 2011

Um bolo




Entretanto, do lado de fora estava ele, esperando um pedaço do pequeno bolo.  Ficou por ultimo, sentado, no frio, sem bolo. Abaixou a vista. Ouviu seu nome em alto tom. Quando se deu pro conta, havia um bolo maior, esperando por você. Olhou o grande bolo incrédulo, sem se dar conta dos detalhes – eram tantos detalhes. Sua vista ficou presa por um segundo no topo do bolo. Um minuto. Uma eternidade.
- Quer casar comigo? Hoje, agora?
Seu olhar, desviado dos noivos em cima do bolo, dizia sim com toda a certeza.

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É sutil o modo como a vida nos dá coisas, nos tira coisas, e às vezes devolve, ou dá algo melhor. Ao mesmo tempo, é cruel como ela se deixa perceber isso aos poucos.

terça-feira, janeiro 25, 2011

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         É preciso fugir. É preciso desistir, atropelar os sonhos e seguir. É preciso deixar de lado tudo que foi preciso pra chegar até aqui, para poder me dar a chance de crescer. É preciso ser triste, ser chato, ser doloroso. É preciso ser eu, não o outro. É preciso ser fraco, ser dois e não ser um só.  É preciso uma continuação triste, e não um final feliz. É preciso chuva no parque, sorvete no chão. Do que menos preciso agora é alegria. Preciso de lama, de queda, de terror. Preciso de água gelada pra acordar, espinhos, vidros quebrados, cortes. Preciso experimentar um pouco do outro lado. Porque tudo que é feliz, bom ou alegre, me faz querer voltar.

sábado, janeiro 22, 2011

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         Às vezes os olhos se empertigam tanto com a visão daquilo que as mãos não podem tocar, que esquecem que os pés precisam de chão para continuar a caminhada. Em busca do inalcançável, tentam voar, esquecendo que é preciso ser passo por passo para chegar. Esquecendo o chão logo a frente, imaginando a colina verde depois do morro.

sexta-feira, janeiro 21, 2011


 Ao acordar, abracei meu travesseiro. Não queria levantar. Não queria acordar. Eu sentia o seu cheiro, estava em paz, porém, sozinha.
 Na cidade do amor, eu estava sozinha.
 Para o meu alivio, você não estava mais lá, não queria que você me visse naquela situação patética Mas, talvez... Talvez eu quisesse você lá. Nem que fosse para me desejar bom dia, ou perguntar se eu estava bem. 
 Nós sabíamos que não ia durar. Mas a verdade é que eu não iria me importar se durasse.
 Aposto que você saiu correndo, assim que acordou. Está tudo bem, eu consigo lidar com isso.
 Apesar da distância, sua presença continuava lá. Era como se você nunca tivesse ido embora. Naquele momento, você estava ao meu lado, sorrindo. Eu pisquei, você sumiu.
 Fechei os olhos por alguns segundos, e te desejei em silêncio. Queria que você ainda estivesse aqui.
 A porta se abriu, você segurava algumas sacolas. Vou te fazer o melhor café da manhã do mundo. Eu tentei me controlar, mas estava sorrindo. Um sorriso largo, que entregava o que eu sentia. Eu estava feliz. Ah, bom dia.


(Cecília Maroja)

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Reencontro


- Lembra quanto tempo eu demorei pra aceitar? Quanto tempo eu passei esperando você voltar, sabendo que jamais voltaria? Lembra? Não se passou tanto tempo assim, afinal. E estamos nós aqui, de novo. Não foi escolha, foi destino, mais uma vez. Lembra que mesmo depois de tudo aquilo, naquela noite, eu não deixei você ir embora? Lembra que mesmo assim você foi? Ali foi escolha. Lembra dos finais sem começo das histórias que contávamos um pro outro? Lembra cada lágrima que caiu na poça do chão? Lembra da primeira? Foi de felicidade. O ritmo do coração e a empolgação do olhar, você lembra? Foi tudo tão bom, não foi? Lembra?
- É, eu lembro.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

carpe diem


          Às vezes o futuro é uma nave que nós podemos, sim, pilotar. Não é escolha sua, nem minha, vir à vida, então porque deveria ser, devido a nossa escolha, definido como vivemos? Mas somos nós que fazemos a vida. E cabe a nós buscarmos cada glória no prazer de viver, na majestade de cada dia, de cada noite, de cada momento. É o agora e não o pra sempre que nos motiva. Então sejamos complacentes, sofrer quando há angustia, sorrir quando há felicidade. Sem esquecer que o amanhã existe. É a graça da vida vivida em seu esplendor, saboreada em seu calor e apreciada com calma e pudor que nos torna humanos. Humanos ao ponto de saber que a vida está diante de nós, e só nós podemos vivê-la.

domingo, janeiro 16, 2011

Carta de um breve fim.

         No sol do verão, escondido na sombra, derramei lágrimas. Lágrimas trágicas de um infortúnio, por vez, merecedor.
          Vi o dia lindo e resolvi caminhar. Andar entre as crianças, e depois, só esperar.
        Esperar já não bastava. Foi o ímpeto da espera que me trouxera ali. Mais um passo dei, seguido de muitos mais. Na esperança de encontrar o caminho.
        Andei sobre as lágrimas que haviam caído, agora sombreadas pelas árvores que deixavam cair suas folhas.
          As lágrimas foram cobertas de folhas e de branco. E por mais duas ocasiões andei sobre elas.
Já não sei se era só sua figura o que eu procurava, ou seu sorriso entorpecente, ou seu olhar caloroso. O importante é que no fim de tudo, eu te amaria.
          Não precisei esperar por isso, mas foi a espera de te ver mais uma vez que me trouxe aqui, nesse lugar onde seu rosto merecedor de olhares e seus mistérios merecedores de atenção apareceram para mim, tomando meu olhar e me deixando totalmente descuidado. E embora fosse breve, o importante é que no fim, eu te amava.

Sonhos que se sonhem, que vivam, que se mordam. Sonhar já não é para viver. Já sonhado, já sofrido, já morrido. Agora, a meta é agir. Mesmo sendo um sonho impossível, é sonho e é meta. Obtê-lo não é apenas mérito, é merecimento. Buscar entre as flores os espinhos para que possam ser cortados. Não adiantam planos de homem sem a ousadia de menino, é preciso crescer sem esquecer. O que te vem aos olhos na sonolência do leito já não vem aos olhos na imponência da manhã e já não é o mínimo que precisas pra ser feliz. Felicita-te com um pouco mais, ou muito mais. E que todo o mais venha de você.


(Arthur Moura)


“A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las." (Aristóteles)

O Coronel

- Quem vem lá! - exclamou roucamente, porém alto o suficiente, o coronel, sentado em sua cadeira de balanço que rangia na varanda. Sua audição, apurada por causa da cegueira, foi capaz de ouvir os passos cuidadosos da pequena mulher que se aproximava colocando a mão em seu ombro e trazendo seu chá.
A pequena esposa do coronel não tinha mais o vigor de anos atrás, quanto o homem havia perdido a visão, e agora tremia para segurar a bandeja com a xícara e o bule apenas com uma mão.
O pobre homem, percebendo a aflição de sua mulher, com um movimento rápido e firme, ajudou-a a segurar a bandeja.
O velho coronel se chama Amor.  E embora Amor fosse cego, nunca havia se sentido tão forte e seguro quanto naquele momento, ao lado de sua companheira que tanto o amava.

A cortina


Na sala existia uma cortina.
Abria e fechava, a cortina.
Na sala tinha uma cortina
que abria e fechava.

A cortina fazia sempre o mesmo.
Toda hora, todo o tempo, o mesmo.
Na sala de Dona Ana tinha uma cortina,
abria e fechava sempre nos mesmos movimentos,
nas mesmas vistas, nos mesmos ventos.

Um dia desmontada foi,
levada para outra janela, a cortina.
Uma outra vista, um outro vento,
o mesmo movimento.

Embora distante do seu primeiro lar,
a cortina ainda era cortina,
ainda seguia a risca
aquela mesma rotina.

Uma carta para você.

Meu Grande Amor,

Um dia você disse que não sabia, que de todos, eu era o único e o único que não entendia. Você veio pra mim, me abraçou, e me deixou. Nem, ao menos, me beijou. Saiu chorando, dizendo que precisava ir. Saiu correndo, doendo e sangrando. Deixou-me só, com um beijo no ar, uma saudação, uma saudade e um luar. Não foi escolha sua, eu sei, nem minha, por vez. Mas não é assim que termina o fim. É triste viver, é triste morrer, é triste continuar aqui, sem saber por que. Esperar é algo que aprendi. Mas se você não volta? Porque esperar o inevitável, sem nem ao menos tentar evitar? É tempo de seguir. Seguir em frente na caminhada, mesmo que isso signifique voltar. Assim, dou meu passo, e espero que me entenda. Não poderei voltar, o passo foi longo demais. Um passo involuntário, de medo, de agonia, de desespero. Foi um passo pro futuro. Um passo pro sossego. Um passo pra longe de você, e do meu choro. As lágrimas agora são de sangue e se chamam pingos. E vai chover sem parar. Porque eu prefiro sofrer à espera daquilo que não virá, do que chorar pelo que eu não pude aguentar. É triste o fim, mas pior é o começo. Porque continuar essa caminhada impaciente, já que eu posso sentar e esperar que passe alguém pra me guiar? Por quê? Eu quero esperar, esperar você. Mas o acostamento é estreito, e o passo que eu dei pra fora do caminho... Não dá pra voltar. Eu estava em cima de uma ponte, e eu não sei nadar. Cair é suicídio, e meu passo foi por você. Adeus.

Seu Pequeno Caso.

Quando vale a pena


- Sempre aqui, lembra? Mesmo que o coração diga pra fugir, sempre aqui. Porque o coração não consegue viver sem ti. – Arthur Moura.