No meio de tanta loucura, pressa e falta de sentimento, criei um único lugar onde algo faria sentido,pelo menos para mim. Um lugar para confortar e acolher pequenas idéias e grandes sentimentos, embora a indiferença de muitos.

sexta-feira, outubro 11, 2013

Uma história para contar.

                Sentindo-me péssimo, como em todas as manhãs desde o dia fatídico, sentei-me à mesa daquele bar que agora frequentava no lugar dos antigos cafés. Pedi a caneca de sempre em respeito às tradições que eu adquirira nos últimos dois anos e comecei a tomá-la de forma a agraciar todo a sua amargura, lembrando como era doce o chocolate quente e cheiroso o café de outrora.
                Detive meu olhar através das sujas janelas e acompanhei o movimento de uma garota de não mais que cinco anos ao atravessar a rua com seus dois balões vermelhos. Quando sua imagem sumiu, uma garota trocou de lugar com ela quase que instantaneamente. Essa já parecia mais velha e audaciosa. Com um casaco marrom cumprido até os sapatos pretos de salto, e um cachecol da cor de vinho mesclado com preto que envolvia seu pescoço. Ao olhar para sua boina escura, senti seu olhar me fitar e seus passos congelarem. Pisquei e finge olhar o parque por trás dela e logo me assustei.
A garota veio em minha direção, olhou pelo vidro e me acenou como amigos de longa data, com um sorriso e um chacoalhar de mão atravessado. Carregando seus dois livros-catálogos, entrou pela porta do bar, atraindo todas as atenções. Jogou o peso de seus braços sobre a mesa, quase derrubando a minha caneca e já foi pedindo desculpas pelo desastre que quase causara explicando ser assim na maioria dos tempos – logo me veio um estereótipo em mente, mas calei-me para não provocá-la.
Sem entender bem o que dizia, assimilei a ideia principal de que ela era minha fã de longa data. Disse que sentia bastante o tempo que passei sem escrever e o quanto fazia falta para ela os conselhos que eu a dava. Fui logo interrompendo e dizendo que não dava conselho para ninguém, apenas escrevia pequenas histórias bobas. Ela arregalou os olhos e me disse que de bobo nada havia nas histórias além de mim. Sentiu-se extremamente chateada com o modo que tratei minhas escritas passadas e as defendeu contanto como haviam influenciado na sua história. Obviamente que eu não podia imaginar tamanho fim para meus textos e então entendi o quanto eu fui egoísta. Pedindo desculpas e pagando pela caneca, retire-me juntamente a moça e seguimos nossos caminhos. Voltei para o meu café na esquina e ela para seu trabalho de rotina.

Prometi a moça que escreveria uma história sobre sua vida até o fim do dia, e sem mais tardar, ela pôde lê-las numa página pouca conhecida da internet, onde jaziam minhas escritas tão importantes para menininhas de oito anos até os dezesseis, e que ganhavam suas próprias histórias aos dezoito.