Este é o grande problema e também a grande solução: tudo passa

Quinta-feira

          Não me esqueço das pequenas tardes, do sol que torrava o chão, da água e do sal que salpicava na mo meu rosto. Não esqueço daquele pequeno intervalo de tempo que acontecia toda quarta. Não esqueço daquele pequeno sorriso que não me deixava, e quando deixava, já não era quarta.

Abrir os olhos

          Eu sempre sonhei com um grande lar, uma família e amigos, muitos, pra recordar. Eu sempre sonhei com uma amizade com quem eu sempre pudesse contar. Sonhei com grandes histórias: uma noite de luar, fugir de casa pra qualquer lugar. Um baile, uma festa, ou só o jardim, não importava muito pra mim. Queria arranhões no braço, beijos roubados, amores proibidos... sonhos frustrados. Um domingo em família, um almoço no rancho. O sol do meio dia, a festa, o canto. Um dia parei de sonhar, você estava lá.

          Não basta acreditar. É preciso fechar os olhos e caminhar. E se você não for capaz disso, desista antes de poder começar. Sem arriscar, à lugar nenhum se pode chegar.

Só mais uma noite

Chave, porta. (Sala) Sofá. (Cozinha) Geladeira, vinho. Armário, taças. (Sala) TV. Sofá. Centro, taças com vinho dentro.

[...]

(Sala) Roupas, roupa íntima, pele. Lábios. Rosto. Pescoço. (Corredor) Pernas. Lábios. (Escada) Olhos. Dedos. Rostos. Lábios. (Quarto) Interruptor. Cama, lençóis, travesseiros. Abajur. Cama, cobertas.

[...]

(Quarto)

O pensador

          Gosto de pensar um pouco. Pensar sobre a vida, as coisas, os lugares. Mas não gosto de pensar muito, para não estragar a minha visão equivocada do mundo. Gosto de sentir as pedras, a brisa, o vão. Gosto do Sol, da chuva, da poça no chão. Gosto de umas poucas ávores, que não tirem a visão, que me deem ar e um pouco de verde. Gosto das pequenas coisas, que cabem na mão. As coisas grandes são demais, demais para minha compreensão. Embora eu goste das coisas grandes, não as tenho em meu porão. Sou aspirante a colega, devido a minha afinidade com o coração. Sou navegante de seios, em teste até então, por gostar de divindades, e ser ingênuo para tal. Gosto de grandes descobertas, de descobrir pequenas ilhas, desertas. Gosto de fundar um novo povo, uma nova conquista. Gostaria de ajudar uma velinha a atravessar a rua, mas elas já não saem de casa. Gosto de gostar de tudo, gosto de não ter nada. Gosto de morar por aí, também gosto de estar em casa. Mas gostar não é trabalho, gostar é diversão. Meu trabalho? Meu trabalho é dizer não (embora eu goste de dizer sim).

Um pequeno episódio.

       Gostaria de abrir um espaço nesta página. Um espaço que, não foge dos temas propostos anteriormente, mas extrapola em relação ao modo como escrevo para meu leitor.

Em meio à dor, ao sofrimento, a indignação e revolta de muitos nessa semana que se termina, devido ao ocorrido no Rio de Janeiro, gostaria de salvar algo de bom em tudo isso.

Sem deixar de lado meus pêsames a todos os atingidos direta e indiretamente pelo jovem insano que trouxe tanta frustração a todos, gostaria de ressaltar algo. Foi-me dito, nos dias que seguem tudo isso, um caso que me chamou atenção.  Em meio a tanta matança, medos e fatalidades, uma garotinha, de nobre coração e alma, se jogou na frente de sua amiga (não colega, amiga) para salvar sua vida. O objetivo da menina foi alcançado, mas o preço foi bastante alto: mais uma que incrementou o número de 12 mortos.

Dessa pequena passagem, não se pode tirar muita coisa, muita felicidade. Mas uma coisa é sacramentada, existem pessoas que ainda acreditam, acreditam num mundo melhor, em amor, em amizade, em ajudar o próximo, em fazer pelos outros o melhor sem esperar em troca, em não desejar o mal... Ainda existem grandes pessoas, embora em pequenos seres.

Prelúdio

          Sinto um frio desgraçado em meados de Março. Sinto um frio que consome a alma e destroi o ser. Ai, se esse frio me doesse menos, se me deixasse viver. Ai, se esse frio me deixasse em paz, me deixasse te ver. Essa coberta sem vida já não me aquece mais. Essa cortina sem cor, sem alma e sem amor, já não deixa o sol entrar.            Quem me dera um raio de luz, uma sombra se quer, para que eu pudesse me enchergar. Para que eu descobrisse a vida em mim, que, há anos, se foi com você.

Um dia de chuva

          Milhões de pessoas. Milhões de guarda-chuvas, todos fechados, pra baixo. Basta uma gota para, do céu, toda a terra se iluminar, encher de vida e começar a dançar.  A dança de milhões de guarda-chuvas que imitam o mar. Os afastados agora se juntam, todos debaixo de um único objetivo. Tudo isso por causa das lágrimas que as nuvens deixaram cair. Resta saber se de um riso irônico, ou de uma tristeza profunda, agora acalentada.

Ocorrências de um 2 de Abril

          Eu não pretendo te fazer chorar, mas as vezes será preciso. Eu não espero que se dediques unicamente a mim, mas também não esconderei esse desejo. Não espero ver seu sorriso todos os dias, uma única vez eu gostaria de te consolar, e de saber que fui eu quem te fez sorrir. Não quero ser perfeito, nem espero que o sejas, para que, assim, eu sempre precise de ti para me completar. Não quero ser o momento de um beijo ou o desejo de um abraço, quero ser a saudade saciada a todo instante. Quero ser o equívoco em dizer "eu te amo" ou a paciência em dizer "eu te odeio". Esperei por um tempo ser esse beijo aí de cima, mas isso não altera minha rotina. Quando vou deitar, penso em você. Por isso imploro que nesse 2 de Abril, como em qualquer outro dia, me sintas um pouco no seu dia-a-dia. E se eu te escrevo isso hoje, é para que saibas que não é mentira.

Todo o sempre

Por mim eu te veria todo dia
não por obrigação, por prazer.
Te veria todo tempo.
Não precisava estar com você,
só ver.
Ver o seu sorriso, o seu rosto,
a sua felicidade...
Me mostre seu olhar
e eu serei feliz de verdade.
Ah, se me desses a mão...
Um dia seria a eternidade.

Para quem não espera nada, tudo é uma surpresa boa.